fragmentos

Caminhando com os pés nus pelo chão gelado de casa tento encontrar pedaços de mim. Sinto-me a tremer, acho que a qualquer momento a minha circulação vai parar, que os batimentos são cada vez menores e eu ainda não apanhei as paginas todas do diário. Preciso de me definir. Descubro nesta escuridão, brilhos, pequenas lágrimas de solidão. Sonhos destruídos, despedaçados, sorrisos evidenciados, tudo isso fez-me ficar gelada, com os músculos presos, e eu não conseguia fugir de tudo isto que me tornava confusa, que de alguma forma ocultava os meus sentimentos, a minha forma de ser, já não queria saber das páginas do diário perdido, já não queria saber de mim, nem das memórias que me colocaram assim. Tentei desligar-me de tudo, mas o rádio tocou sozinho, tentei dançar, mas não tinha ritmo, tentei cantar, mas a voz não queria sair, tudo me era negado. Sentia-me sozinha, contemplando o triste brilho do luar, relembro os céus negros, e a brisa suave que acabava de me arrepiar, tentava levantar a cabeça, mas nem isso eu tive coragem de fazer, pois as forças me disseram que não, recorri a voz que me chama a razão, até essa se encontrava no fundo vestida de negro. Procurava abrigo, mas as portas pareciam fechadas, queria abri-las mas não me conseguia mover, tentei usar os códigos que prometi usar nas horas difíceis, mas nem isso fui capaz,  naquele momento vi o quão inútil, eu era, que na realidade não era nada, o meu recheio abandonou-me, os sentimentos que me alimentam a vida também, dei de caras com um ser vazio, de cara pálida, e com ar de quem já não dormia a 7 noites. Tentei arrastar-me cuidadosamente para não me ferir, e acabei por ler uma página do meu diário que se encontrava ali começava deste jeito : Vamos ver as estrelas, vamos ao fundo mar, vamos encontrar um tesouro, um tesouro dos tempos remotos, um tesouro feito de amores dos nossos antepassados. Vamos passear por essa estrada incerta e duvidosa, e vamos torna-la certa, segura. Vamos viver por quem não teve oportunidade de viver. Vamos ser quem ainda não somos. Vamos fazer o que ainda não fizemos. Vamos viver o nosso futuro. Dá-me as mãos, e vamos viver a vida, a nossa vida.Sentia que o mundo estava a mover-se rápido de mais, estava tudo a girar a tamanha velocidade a minha volta que as imagens para mim já não eram nítidas. Eu estava ali presa ao chão, os pés não andavam. Não conseguia acompanhar este ritmo. Estava presa a este maldito sonho que me gastou uma bela noite de sono.

(Inventado)